quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

AS LIÇÕES DE SANTIAGO  EXTRAÍDAS DE "O VELHO E O MAR", ERNEST HEMINGWAY


Foi em Cuba, no ano de 1951 que o renomado autor americano Ernest Hemingway escreveu um conto de otimismo que emociona em sua simplicidade. "The old man and the sea" é a uma das grandes responsáveis pelo prêmio Nobel da Literatura recebido por seu escritor no ano de 1954.
"O velho e o mar" é a história da luta entre um velho e experiente pescador contra a maior captura de sua vida. Durante 84 dias, Santiago, um idoso pescador cubano, aventura-se no mar, sempre retornando de mãos vazias. Tão notável é sua falta de sorte que os pais de seu jovem e devotado aprendiz e amigo, Manolin, o obrigam a deixar Santiago a fim de pescar em um barco mais sortudo. No entanto, o garoto continua se preocupando com o ancião e, a cada dia que este volta do mar, à noite, ajuda o velho pescador a empacotar seus equipamentos em sua cabana, já em ruínas; garante sua alimentação noturna; e conversa com ele sobre as novidades do baseball americano, assunto que muito interessava Santiago, em especial no que concernia seu herói no campo, Joe DiMaggio. Apesar do constate azar, o ancião não perde a confiança de que o período improdutivo logo vai passar e, no dia seguinte, decide-se por ir pescar ainda mais longe que o normal.

No 85º dia de sua jornada de azar, Santiago realiza o que havia prometido, navegando com seu bote pelos mares mais distantes da rasa costa da ilha e se aventurando no córrego do Golfo. Ele prepara suas linhas e joga-as. Ao meio dia, um grande peixe, um espadarte, toma a isca que Santiago havia preparado e, com ela, penetra profundamente as águas do mar. O velho pescador habilmente fisga o peixe, mas não possui forças para colocá-lo para dentro do bote. Em vez disso, é o peixe quem começa a puxar o bote.
Por não conseguir amarrar a linha ao bote, temendo que, esticada, o peixe conseguisse partir a linha, o velho segura a tensão da linha com seus ombros, costas e mãos, pronto para folgá-la caso o peixe começasse a nadar mais rápido. O espadarte puxa o barco o dia inteiro, a noite inteira, outro dia inteiro e outra noite inteira. Ele nada no sentido contrário da corrente até que, cansando, em um determinado ponto ele resolve seguir a corrente. Durante todo esse tempo, Santiago suporta uma dor constante da linha de pesca. Cada vez que o peixe mergulha, salta ou esquiva-se na tentativa de escapar, a corda corta gravemente as mãos de Santiago. Muito embora ferido e cansado, o velho pescador sente uma grande empatia e admiração pelo peixe, seu companheiro em sofrimento, força e determinação.
"É um peixe enorme e tenho de dominá-lo. Não posso deixar que ele compreenda a força que possui, nem o que poderia fazer se aumentasse a velocidade. Seu eu fosse ele, reuniria agora todas as minhas forças e começaria a correr com toda a velocidade até que qualquer coisa partisse. Mas, graças a Deus, não são tão inteligentes quanto nós, nós que os matamos, embora sejam mais nobres e valiosos."
























É apenas no terceiro dia que o peixe se cansa e Santiago, privado de sono e quase delirante, consegue puxar o peixe para perto e, assim, matá-lo com o golpe de um arpão. Morto ao lado do bote, o espadarte é o maior que Santiago já havia visto. O pescador levanta o mastro e começa sua jornada de volta para casa. Nosso personagem anima-se com o valor financeiro do espadarte no mercado, mas a sua real preocupação é o fato de que as pessoas que comerão o peixe não serão merecedoras de sua grandeza. A firmeza, determinação e o coração forte demonstrado pelo peixe durante toda a luta são raras virtudes na sociedade.
"[...] por que ele teria saltado? Quase que diria que veio à tona d'água só para mostrar-me como é grande. Agora já sei, seja lá como for. Gostaria de lhe poder mostrar que espécie de homem sou eu. Mas nesse caso, ele veria a cãibra que tenho. É melhor que ele pense que sou mais do que sou e assim o serei. Gostaria de ser aquele peixe, e trocaria de bom grado minha vontade e minha inteligência para ter tudo o que ele tem"
Enquanto Santiago veleja com o peixe, o sangue do espadarte deixe um rastro na água e atrai tubarões. O primeiro a atacar é um grande anequim, o qual Santiago consegue assassinar com o arpão. Na luta, o ancião perde não somente seu arpão, como também metros de uma corda valiosa, o que o deixa vulnerável ao ataque de outros tubarões. O pescador repele os sucessivos perversos predadores o máximo que pode, esfaqueando-os com uma lança que ele cria ao acoplar uma faca a um remo e até surrando-os com o leme de seu barco. Apesar de matar muitos, cada vez mais tubarões surgem e, quando a noite chega, a luta de Santiago contra os carniceiros torna-se inútil. Eles devoram a melhor carne do espadarte, deixando somente o esqueleto, a cabeça e o rabo. Santiago, então, começa a se castigar por ter indo tão longe da costa e por ter sacrificado inutilmente seu grande e digno oponente. Ele chega em casa antes do cair da noite, cambaleia até sua cabana e dorme profundamente.

Na manhã seguinte, uma multidão de pescadores maravilhados se reúne ao redor da carcaça do peixe, a qual está ainda acoplada ao barco. Nada conhecendo sobre a luta do velho pescador, turistas em um café próximo observam os restos do espadarte gigante e o confundem com um tubarão. Manolin, extremamente preocupado com a ausência de Santiago, não contém as lágrimas de seus olhos quando encontra o velhinho salvo em sua cama. Ele busca um café para ele e os jornais do dia com a pontuação do baseball e depois assiste Santiago enquanto ele dorme. Quando o ancião acorda, ambos concordam de retornar com a parceria de pesca. O pescador volta a dormir e sonha seu frequente sonho sobre leões brincando nas praias da África.
""É bom saber que não tenho de tentar matar as estrelas. Imagine o que seria se um homem tivesse de tentar matar a lua todos os dias", pensou o velho. "A lua corre depressa. Mas imagine só se um homem tivesse de matar o sol. Nascemos com sorte."
Não apenas uma história de solidão, nem tampouco mais um conto sobre a constante luta entre o homem e a natureza. A obra vai além. Ela nos traz a sabedoria e experiência de alguém que passou por muito na vida e aprendeu a não desistir. Também nos traz lições intermediárias sobre aparências,  superioridade e humildade em palavras que de tão simples nem sequer precisam ser interpretadas.
O ancião não tem família e seu único amigo no mundo é Manolin. Mas não é porque ele está sozinho que desiste de percorrer seus objetivos. Nem a idade, nem o cansaço, a falta de força física, ou o desgasto são capazes de fazer o velho pescador desistir. Ele reconhece que seu oponente é mais forte e mais hábil que ele e tudo que ele tem a seu favor é a inteligência, a paciência, a perseverança e a sabedoria de seus anos de pesador e de homem. Ainda assim, ele persevera e acaba por vencer a batalha. Mas quem saiu vitorioso?
" 'Mas o homem não foi feito para a derrota,' disse.'Um homem pode ser destruído, mas não derrotado'"
Ao passo que uma história de determinação, o livro nos apresenta o outro lado da ambição: muitas vezes conseguimos atingir nossos objetivos, mas depois percebemos que eles, simplesmente, não valiam à pena. Antes mesmo dos tubarões destroçarem o peixe, fazendo nosso protagonista arrepender-se profundamente de seu sacrifício de ir mais além e de tirar a vida de seu digno e grandioso amigo, Santiago sente remorso por saber que as pessoas que desfrutarão de sua pesca não são dignas do espadarte. Finalmente, após grande desgasto e arrependimento, Santiago retorna ao ponto em que estava no início: talvez não mais triste, mas tampouco mais feliz. E voltamos à velha controvérsia: será que os fins realmente justificam os meios? Muitas vezes, machucamos pessoas, deixamos os entes queridos de lado, focando em um objetivo com perseverança e determinação, mas percebemos que de nada valeu todo o esforço e sacrifício quando percebemos que, não importa onde estejamos, as coisas de valor serão sempre as mesmas e estarão sempre no mesmo lugar.



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