POESIAS



















































































8º Concurso On-Line ‘Doralice Silva de Poemas de Saudade” - Classificados


1º Lugar: CARMO VASCONCELOS (Odivelas, Portugal)



MINHA SAUDADE


Minha saudade vibra e tem um nome,

nome de alguém que outrora foi calor,

e hoje queima a saudade desse amor

que em tempos lhe matou a sede e a fome.



Era pequeno pão, mas de alimento,

doce sabor nas ínfimas migalhas...

Tinha o aroma inebriante das fornalhas

onde os amantes ardem em tormento.



Mesmo que débil riacho para a sede,

eram tão refrescantes as suas águas,

que nelas se afogavam as mil mágoas

do amor que a vida a mim mal me concede.



Ora minha saudade é esquecimento,

e abafa fome e sede em temperança,

ora é gume ferino como lança

que não mata mas mói no desalento.



Se há momentos que explode em desvario,

outros há que ao dormir logo se acalma,

porque em sonhos revê esse amor d´alma...

mas sempre acorda imersa no vazio!







2º Lugar: EDSON LUIZ MAURICI  (Camboriú, Santa Catarina) 


PORTO DA SAUDADE


Cada instante em que ressoa

Essa saudade no meu peito...

É um clamor que ecoa

ter da paixão o proveito!



A distância não nos magoa,

pois que todo amor é perfeito!

És borboleta que voa...

E amaste do teu jeito!



Como quem seu amor apregoa,

te refazes a cada trejeito...

És quem insistente povoa

habitando ainda meu peito!



Nenhuma nota destoa,

se saudoso, me inquieto

ante a lembrança que entoa

a canção do nosso afeto!



Vagas como se canoa,

Em ti flutuo como o eleito...

Pois a saudade agrilhoa

a história de ser teu porto!













DEUS NEGRO


Autor: Neimar de Barros






Eu, detestando pretos,

Eu, sem coração!...

Eu, perdido num coreto,

Gritando: “Separação”!

Eu, você, nós... nós todos,

Cheios de preconceitos,

Fugindo como se eles carregassem lodo,

Lodo na cor...

E com petulância, arrogância,

Afastando a pele irmã.





Mas

Estou pensando agora:

E quando chegar minha hora?

Meu Deus, se eu morresse amanhã, de manhã!

Numa viagem esquisita, entre nuvens feias e bonitas,

Se eu chegasse lá e um porteiro manco,

Como os aleijados que eu gozei, viesse abrir a porta,

E eu reparasse em sua vista torta, igual àquela que eu critiquei

Se a sua mão tateasse pelo trinco,

Como as mãos do cego que não ajudei!





Se a porta rangesse, chorando os choros que provoquei!

Se uma criança me tomasse pela mão,

Criança como aquela que não embalei

E me levasse por um corredor florido, colorido,

Como as flores que eu jamais dei!





Se eu sentisse o chão frio,

Como o dos presídios que não visitei!

Se eu visse as paredes caindo,

Como as das creches e asilos que não ajudei!





E se a criança tirasse corpos do caminho,

Corpos que eu não levantei

Dando desculpas de que eram bêbados, mas eram epiléticos,

Que era vagabundagem, mas era fome!





Meu Deus!

Agora me assusta pronunciar seu nome!

E se mais para a frente a criança cobrisse o corpo nu,

Da prostituta que eu usei,

Ou do moribundo que não olhei,

Ou da velha que não respeitei,

Ou da mãe que não amei!...





Corpo de alguém exposto, jogado por minha causa,

Porque não estendi a mão, porque no amor fiz pausa e dei,

Sei lá, só dei desgosto!

E, no fim do corredor, o início da decepção!





Que raiva, que desespero,

Se visse o mecânico, o operário, aquele vizinho,

O maldito funcionário, e até, até o padeiro,

Todos sorrindo não sei de quê!

Ah! Sei sim, riem da minha decepção.





Deus não está vestido de ouro! Mas como???

Está num simples trono:

Simples como não fui, humilde como não sou.

Deus decepção!

Deus na cor que eu não queria,

Deus cara a cara, face a face,

Sem aquela imponente classe.

Deus simples! Deus negro!

Deus negro!?





E Eu...

Racista, egoísta. E agora?

Na terra só persegui os pretos,

Não aluguei casa, não apertei a mão.

Meu Deus você é negro, que desilusão!

Será que vai me dar uma morada?

Será que vai apertar minha mão? Que nada!





Meu Deus você é negro, que decepção !

Não dei emprego, virei o rosto. E agora?

Será que vai me dar um canto, vai me cobrir com seu manto?

Ou vai me virar o rosto no embalo da bofetada que dei?





Deus, eu não podia adivinhar.

Por que você se fez assim?

Por que se fez preto, preto como o engraxate,

Aquele que expulsei da frente de casa!





Deus, pregaram você na cruz

E você me pregou uma peça:

Eu me esforcei à beça em tantas coisas,

E cheguei até a pensar em amor,

Mas nunca,

nunca pensei em adivinhar sua cor!...







© Neimar de Barros

2 comentários:

  1. Eu simplesmente amei, fantástico tocou a minha alma. Gratidão pelo maravilhoso momento poético.
    Saudações poéticas
    Betimartins

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    1. Obrigado. A partir de hoje 06/01, voltaremos a atualizar a página diariamente. Aguardamos seu retorno.

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